sábado, 23 de abril de 2011

outros fantasmas e as formas

sou atacado pelos objetos mesmo sem alcançar o que sou. por que vingança não sei, mas farejo. onde mais vejo é que acontece. me queimo quando outro olho percebe que nesse vértice há outro porém. e penso "bem... quanto mais verdade, menos tem". realizo que ou não importa, ou importa tanto, que se não há troca, não há ato. me assusta o fato de romper com qualquer contrato, no entanto não me espanto se o faço ou ensaio. deve ser mais medo que vontade. a vida responde sempre na medida do alarde, testando a tempestade nas veias, pulsando e pulsando até não parar; desde que mude. a lucidez proporciona opções diferentes e as escolhas se entrelaçam. existe um quero destoante do sinto. brilhante instinto. brilhantismo esquisito. um pouco mais de espaço pra pensar no tempo das coisas já que tudo ficou menor.


se tornamos a evocar a alma é de morte que estamos.

o que não encaixa se desdobra.

.

segunda-feira, 21 de março de 2011

old times, same feelings

gostaria de indicar esse álbum pela falta do que dizer e pelo excesso de mumunhas.


John Lennon - Plastic Ono Band [1970] - remasterizado



!!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

que dói

não é frio
não é fino
não é faca
não é febre

não resolve
não explode
não reserve

não é segredo
não é verão
não vira nunca
não é não

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

senza crema [è trovare l'italiano]

.ser tão sim plista,

enxergar o óbvio
e desconhecê-lo
por possuir idéias de terceiro
e convencê-lo
de que só houve
se ouviu
embora se console com
cem mil

concorda que falta
atmosfera na alma
até que mata
sem sol
sem som
sem nata.


sem tom, sem pegada, de passagem entendeu nada. se trumbicou ao invés de se comunicar. fora surpreendido fora de hora. e passou. argumentou. mentirou a verdade que crê. quebrou a cara sem sujar. se fosse ajudar preferia não ser. tudo se aprende sozinho - "antes só que dentro do ninho" -, diz o lema. mas o problema é que assim não se troca. se elimina. e não te devo explicar que se deve aceitar certas dificuldades e embarcar. a não ser que não deseje. ou eu, ou tu foge pro egito. nulla è stato capito


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

bile

percebo que cabô

nada sá

i!

só me trai

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

não sei a que mão chegará


 sei que você gosta de se sentir livre. pergunta a todos se não deveria perguntar. age espontaneamente sensível ao outro. às vezes força um momento, mas logo o desiste. não persiste à toa. faz jogo duro consigo. caminha só quando o solo encaixa. pede desculpa sem culpa pois escuta. demora quando não há tempo com hora. volta assim que lhe vem. receia compromisso com quem convida demais. sonha pelos cotovelos. pede pra parar mas não respira. descobre o infindável a esmo. destoa nos relacionamentos pobres. vê no simples o porém. cala pra não competir, a não ser que se defenda. ainda assim, não grita. prefere o que não corresponde. explora os cantos. dorme  pouco e firme. permite pra tentar relaxar...




pensar nas coisas
faz pensar as coisas
e como elas se dão

estica tanto a palavra
que esquece de vivê-la.

terça-feira, 6 de julho de 2010

indiscussão

a negação. um espaço preto antes de branco. aquilo que preenche e depois releva.

um posicionamento radical exerce uma força maior pelo desconforto. como consequência, a própria rejeição. possivelmente aquela que de antemão não se acolha, mas que mergulha e revela.

nada de novidade na opinião alheia, um sim talvez não. o radical abomina o fim da discussão. ele perturba e rulmina indagação. sabe muito que em si não há verdade, mas masturbação. exige um contraponto pra pensar, vomitar e recolher migalhas de ar. sua própria negação consiste em fingir. como se a domínio de um nada houvesse um palanque circense propício ao desenvolvimento das coisas. vago assim a ponto de ser o artifício de maior verdade.

e o que seria de menor verdade? a vida como ela se propõe. o esgarçamento de malditos populares. neuroses múltiplas. dissipação de inícios homogêneos. berros de ensejos individuais. notórias diferenças abafadas em suas crenças. um pouco de tudo, que ao radical soa um tanto irrisório.

o não fere, duvida, dissipa, descamba, arremata, debocha, retalha - e consegue ser, indesejavelmente, a alegoria de uma ilusão. a existência incômoda e por isso mesmo existente. um mimo à beça.


revés de começo por princípio.




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Seja eu o homem
seja ela também
seja ela o homem da história
seja a história invertida
seja eu uma coisa ou outra.

Serás, de partida,
o avesso da vida.


janeiro/2007

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vou ser vida
devaneia
a temporal.
 

abril/2010



sábado, 3 de julho de 2010

contem plativo

debruça na janela
uma esperança
de liberdade
quando há céu
como se fosse
mais tarde que pudesse
antes mesmo
que voasse
interminável
mente.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

fluxo

desescolher
romper
desencontrar
nascer
desaprender
aprender
descompassar
escolher
desencaixar
perceber
alargar
descaber.

domingo, 21 de março de 2010

carta de fulano

«caro afeto,


você é companheiro do respeito. acho que isso tem a ver com amor. envolver-se por admiração. aproximo-me daquilo que permeia paixão, encantamento, vontade de ter pra si como presente. por pura absorção. coisa que constrói.

a gente descobre sobre a vida e se impõe sobre as coisas; como ao tempo, por exemplo. portanto, arte não deve estar a serviço dela mesma como um conceito, mas de um sentimento sincero de estar.

e como pode ser tão possível um afeto desperto ressonar, reavivar e preencher a vida? 

é uma mistura de fulanos que se fazem aparecer e que fascinam na mais perfeita ausência de gênero. desejo elas como musas, ligação de carinho e tesão em muito. desejo eles na troca de afeto com mais enfoque e seriedade. mas é mentira. entre nós tudo ocorre e permuta entre si. desejo ele e ela do mesmo jeito. canalizamos através daquilo que limitamos contextualmente em racional. nós é que estamos anjos.

você não tem origem…
tem certeza?

admiro outros dois fulanos: um conhece e o outro sabe - ambos dominam seus afetos tortos, ainda que. minhas fotos são diagonais, uma visão escalena. nossa interseção consiste em sermos largos nos nossos quereres.

e nos alikementamos.


sinceramente,
    fulano. »

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

atemporalizando o sei

após descoberta, a familiarização. processo todo incessante do saber. tempo que sempre.

o verborrágico se esquece pro artesão.

a vida empurra conceito estufando o lógico. por isso a dificuldade muita de assimilação das informações desencontradas.

as explicações tendem ao que nos existe.

criar conceitos não surge do vácuo. muito pelo contrário. da mesma fonte que tudo. as bifurcações transbordam descaminhos no contato com o outro e com o resto. nas mais corriqueiras ações.


em suma, dialética do amadurecimento:
aprendendendo uma coisa, incrivelmente ensina-se outra, pois princípio inspira a retórica. (e pausa). o silêncio dos inervalos de ações pesa tanto que esparrama experiência vida abaixo. escora nos inícios. e pelos finalmente.

atemporalizando-se.


:}

el topo

ele sempre. o tempo
é oco. bate e volta.
fulano que sacou.


{:

ouça sempre
o que espera
tempo
reflete era.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

acontessência

a vida perdoa só tempo. aquele tal uno colossal. pudesse viver de tudo a esquecer de passado e a vida seria muito. do acaso ao talvez. engraçado como é árduo pra difícil. como mais foge que aproxima essa querência. para isso, é claro, elucubra-se essência e morte até.

o medo é vertente da vida. um sadismo cômodo em mover sofrendo.

não há dúvidas do maior, ainda que escuro. sensações impulsionais pulsantes do eterno. um peso sem vago de total esmago. leve quando desencaixa em livre conexão. isso encuca. faz crer nomes diversos [arte, deus, essência, meteóro, nirvana, gol, suor, canto, ballet, rio, etc, etc e etc].

responsabilidade juvenil de ser. intensa busca por identidade que não se basta. quanto mais indócil menos invólucra, apesar de amadurecida. acontecimento existencial natural enquanto sobrevivência. refutação do é pelo deveria. necessidade de aceitar a realidade anacrônica ao conhecimento.

genética responde por involuntariedade. arte assume insanidade.

de resto, sociedade.


como desculpa
pisar sobre pisos
rir sobre risos
amar sobre outros
intuir sobre coisas
por acontecer.





o que não tem juízo...


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sobre alma
sei doar
pelo olho
recomeço
logo um gesto
sem avesso
e assobio
pra ensinar

ou recrio
sem pensar
o que transforma
tanto
de vida
em lar.

13/08/2009

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

e o caráter criativo

conhecimento é imaginação saturada.
não existe graça fora do mistério.

o que
é
parece
e
foi-se.


rótulo se apresenta em certidão. comunhão abençoa o encontro. e graças aos códigos, rompemos fronteiras de relação ao comunicar...



Quando nos codificamos, pretendemos nos fazer entender. Assim, parecendo simples, se realiza a comunicação. O que percebo atualmente, contudo, é o desinteresse pela (falta de) identidade do Outro por razões diversas, que vão da educação cultural aos adventos tecnológicos alicerçando a pós-modernidade. A Geração Matrix engatinha carregando pilhas, enquanto o sujeito de agora não acompanha tanto avanço, se oprime no que sente, busca o analista fervescente de angústia ao invés de andar pelas ruas. A capacidade de arte continua restrita, ainda que mais democrática, ardendo subversiva no sagrado intelecto. O resto come massa no prato principal.

Não compreendo como é que a individualidade fria, por ora ambígua, se realiza quando o comum grita banal em manchetes, esparramando-se em conversas de bar, mesas redondas, eventos familiares e etc. Por que as pessoas consomem tanta informação sucateada, quando deveriam se preocupar prioritariamente em produzi-las? Não é incrível presenciar experiências que ensinam vida? Ou ter uma estória a contar? Ou um conhecimento que nos leva a uma criação por refleti-lo? Enfim, interrogativas que se resumem a autodescobertas e que, portanto, não se bastam em explicação.

Parece que comunicar é raro somente aos que exercem tal função social, quando a prática antecede em milênios a profissão. O que nós, comunicólogos, podemos afirmar é teoricamente ter um maior domínio sobre o que são os signos, como, qual e por que (tentam) se comportar de tal maneira; mas de que adianta? Que repertório é esse explorado por nós, se não um achismo estatístico sobre o que se entende por vocábulos e imagens? Prefiro deixar que a ciência e a religião se embestem com suas verdades fajutas.

O desinteresse lingüístico para com as imagens, sons, sobretudo palavras, reside na falta de silêncio na interação, ou seja, na assimilação dos códigos – por que não pelos poros? A imaginação nos é livre, onde existem vísceras de desejos. Entretanto, a comunicação me parece um eixo fast-food de associação grosseira até curta, sem refutação com tempos. A educação de sensatez de mundo se restringe à realidade pesada de superética, na busca rasa por bom senso comum. Creio na importância do perceber sensível ao que nos convém no cotidiano, no pensamento enquanto produção de individualidade para a sociedade, e não tão somente para si, pois não há ciclo humano autotrófico.

Um rio brota de ressurgência num sítio onde silêncio cospe, análogo ao sapiens estando afeto, nu, e praticar-se é o ato máximo de criação que pode infinitar o diálogo. Não julgo poderes divinos sobre os homens, desloco apenas a capacidade interpretativa do óbvio à liberdade. Há uma certa preguiça medrosa em contestar e/ou aceitar a ignorância como elemento fundamental da descoberta – ao comunicarmos, rompemos a fronteira do desconhecido. Se a mera reprodução valesse, o Outro seria barulho espelhado. Lembremos, pois, que o Outro, distante de repetição, não tem cara, é resto de gente ou poeira sem coisa; daí a invenção.





sem desconstrução, o que resta?

.

domingo, 26 de abril de 2009

tempo emerge todo o tempo

...


há um que se desmonta falho.
memória.

outro mesmo escangalha.
história.

quando não ilusório.
contrário.

ou até cósmico.
onírico.




se retarda em distâncias.

fragmenta esferas.

boicota espaços.

forma eras.

engana.






rei do etéreo.
síndico do saber.
morador do silêncio.

cínico
em desvario
esconde mistério.






basta

atender

ao chamado

contemporâneo.


[ . ... . ... .]



que tempo não se tempera com tempo?
.

domingo, 8 de março de 2009

tom de silêncio

não é de voz, mas de linguagem. bordeia imagem. respira o descompasso do som. cheira a vapor. passeia entre dentes e engole seco. tateia como ar. mistura com o vento o que se há.

percepção espreguiça tênue, prestes a desmistificar a sombra da natureza e a crise entre homens ensolarados. fruta madura não hesita origem. política despenca de hipocrisia. ambas desabitam o silêncio. a interação surte de cor espontânea. a mente me parece flecha sutil e o instinto voraz ingênuo. faz tempo que imitam folha até a morte. afeto brota em ressurgência. de vida, pois, sacia tudo aquilo que se molha.

toda falácia desfalecia.

muito acontecer sobre nada - sopro de linguagem oca.





era o parto dos contrastes. festa sem alarde.



ensaio de felicidade.



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Domingo cedo
goteira logo

boceja


28/12/2008

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"Olho é uma coisa que participa o silêncio do outro."

Manoel de Barros




quarta-feira, 22 de outubro de 2008

bicho da própria cabeça

sentir-se fora do eixo. deslocado. incompatível. estranho. desentendido. amedrontado. enfim, só.

solidão é inevitável e nada tem de tristeza. o que ocorre, no geral, é desespero ao reconhecê-la. solidão tem silêncio altamente aproveitável. sussurra existência. promove eloqüência da mente e do corpo. a sinestesia se expõe vulneravelmente ao torpor. é o momento em que o ser é o arauto de si mesmo. e ouve-se muito. de ensurdecer. sim, é difícil e sutil, pois fragiliza. assusta e resulta em carência. mas é só encará-la, que logo surte degustação. o meio se torna mais atraente. o real mais alegórico. o que parecia pitoresco e distante, se aproxima do subjetivo e se materializa em certeza.

todo esse procedimento de autoanálise e confirmação serve somente para conforto da mente. é mera conversa para que a razão impiedosa se sinta convencida. tranquilizada. só assim, ela se desarma e permite que o ser espante os bichos encrostados pelo compromisso de existir. os fungos sociais. e pronto. aproxima-se vagarosamente da autonomia, vulga liberdade.

não é de se afastar eternamente todos os seres humanos, para viverem em paz e sós. solidão nada tem de isolamento físico. é apenas mais uma forma de autoconhecimento e integração dessa espécie à genuidade.



à natureza, não convém certeza.



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não entendo
e mais, só.

essa coisa de diferença
de fuso difuso
de jeito de uso
de maneira crença.

afeto é o que me falta
preciso voar
cheirar outro mato
beijar outro asfalto
que chamam a voltar.

vou no espaço
largo
o tempo
trago
o momento
traço
e faço um laço.

pois solidão sem salto
é mentira narrada
ciranda rachada
sapato alto
sem ato.


10/03/2008 e 10/09/2008
(juntando momentos)

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Muita gente
muito vazio
pouca gente
muito vazio

Pessoas que não preenchem o vazio
pessoas que enchem espaços
espaços que estão cheios de cosmos
pessoas que dependem dos cosmos
e de energia invisível no espaço
para se preencherem.

Pessoas que temem a solidão
acompanhada de cosmos,
temem o vazio próspero
e comemoram juntas
o vazio da própria existência.


31/01/2007

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solidão é assunto de hoje
mas amanhã eu conto
pois quero ser feliz
dormindo tanto
e só.

22/10/2008


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só?


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

andanças

o bom é que aqui eu não devo explicações. um quase não-compromisso. a não ser com a própria vontade. um compromisso original e de cobrança sutil e impositiva. e isso, para divagar sobre sentimentos, que de nada adianta falar, se não senti-los. mais um discurso repetitivo. da sinceridade. espontaneidade. naturalidade. e, agora, como nunca, a ingenuidade. não a ingenuidade tola. alienada. mas a que permite desarmar preconceitos e perceber os momentos.

um viajante precisa ter sensibilidade. e precisa da ingenuidade mesclada com humildade para ter a segurança de afirmar: "o mundo sou eu". sendo assim, o mundo deve ainda se conhecer. pois se renova a cada interpretação e troca. o mundo ferve e não tem eu. ele é eu. e quantos eus forem necessários. o eu, tadinho, se enaltece demais nas suas limitações e não entende que ele só pode ser tudo. o ego é uma titica perto do mundo. e o ego não sou eu. é só uma punhetinha do eu. sondando esse eu, percebo sentimentos que o rondam e o constituem como natureza do universo. sentimento que é coisa que não se controla. e afeto é fragmentação de sentimento. finalmente, o ponto: afeto deve ser distribuído. compartilhado. somente assim, se perpetua no efêmero. e o viajante carrega isso para a vida cotidiana.

(sem entrar em questões religiosas. talvez sim, humanísticas. mas não aquilo de ajudar ao próximo, aquele blábláblá batido.)

nas relações que mantemos na nossa pequeninice, temos afeto. um mundinho onde procuramos massagear as afinidades. desafinidades, quando nos convém. precisamos daquele afeto do outro, como uma necessidade de vida. depositamos em poucas pessoas. assinamos tratados de confiança. fazemos política com afeto. e assim formamos uma coletividade vulnerável. uma cadeia de prazer limitada e dependente. por isso, viajar é estudar vida.


relato pós viagens:

[...e de um ano pra cá, pude respirar melhor os caminhos da mente. percebi melhor a grandeza da natureza. da integração do não-eu que produz esse eu. e, após o eu, o sentimento...

e, enfim, o afeto - e como ele se espalha pelas andanças da vida. nos mundos de eus alheios. estórias simples que não devem nada ao interlocutor. que são porque acontecem. e quando contadas, se esvaem como o afeto. pra isso, não há tempo preciso. é só momento.

gritei livre por felicidade. pude finalmente ouvi-la em resposta. abracei o vento e entorpeci meu corpo. o momento faz o afeto. faz as pessoas. faz o ar. e só com maturidade que pude ser ingênuo a ponto de fragmentar-me em certezas. e certezas que me mostraram muito. os inchaços. a efervescência. a vibração de todas as não-matérias latejantes...]


tudo soa tão subjetivo que se perde em tentativas de explicações superficiais. se perde porque não tem eixo.


é certeza em vapor.





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dois clássicos para exemplificação:


Vinícius de Moraes:
"que seja eterno enquanto dure"

Baden Powell:
"na vida não se estuda pra aprender; é preciso viver"

Fernando Pessoa:

"navegar é preciso, viver não é preciso"

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Quero dissolver no ar,
poluir o incerto,
experimentar ozônio,
vagar pelos hemisférios,
encontrar o nada esperto,
seco, a me esperar.

Quero fazer do meu ser
o mais desprezível notado,
despertar nos sonhos,
em forma de antologias,
o prazer encarcerado.

Depois de muito viajar,
espero assim voltar,
poento,
com presença em fragmento.

05/03/2007



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domingo, 6 de julho de 2008

sentimentado

não falta amor
muito menos dor









falta sensibilidade.





segunda-feira, 12 de maio de 2008

descoberta

descobri um segredo sobre a vida. sobre uma fase que faz dela única. uma invenção. descobri a infância. descobri em foto velha. em lembrança fresca. descobri na própria infância que criar é desdescobrir. aqui, distante da infância, percebi que havia descoberto. e redescobri. em estouro de bolha. observando mariposas na luz da noite. pisando em amontoado de pedrinhas. manchando camisa branca com mãos de tinta. ralando o joelho no asfalto. etc com certezas. pois etc sem certezas não viram estórias. um contador há o que contar. um cérebro há de conhecer. e se expande sem haver espaço, com o obséquio de formar certezas. são assim educados os saberes. convictos de desculpas alheias. por pura falta de coerência existencial. a inocência é arma de força. e a natureza é inocente. não é de se ter pena das folhas. quiçá de um rio. fluente e esquivo. uma inocência de milhões de anos. uma infância eterna. que a eternidade humana não se esqueça de desaparecer. humilhada pelo tempo.

[pra que serve a criação? enfeita o tempo. não há de prestar para algo. manobra o antigo. liberdade do novo. da criança dispersa que usa chave de fenda para afrouxar as nuvens do teto. e as coloca debaixo dos braços. só para passear por entre formigueiros.]

pelo teto de casa: vaguei sem sujá-lo. chutei sem força a presilha da cortina. pulei as lâmpadas enroscadas na vida. deslizei com o gás solto da cozinha. desviei ao esbarrar nos varais da área. equilibrei-me no chuveiro goteiro do banheiro. e me via. no espelho na minha mão, virado pra cima. refletindo-me.
passei por essa experiência mais de uma vez sem vivê-la. eu era inocente.





não presta pra criança quem não inventa inocência.


idade não encaixa em criança.




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Quis andar descalço
perdi meu chapéu
na coxia do tablado
esqueci o resto da fantasia
junto do sapato
comi biscoito de terra
com chocolate
pra pintar feliz
com giz de cera
derretido em fogo

pinguei no papel
a paisagem
de nuvem azul
céu branco
sol vermelho
árvores retas
casas tortas
bonecos palitos
e escutei o sinal
que dizia
que era hora de brincar
não mais trabalhar

corri pelo pátio
mudando de certeza
de pessoa
brinquei de espada
de pássaro
e de vencedor
mesmo sem fim
ouvi estórias até dormir
de repente no chão
cansado
sem hora de ir
pra acordar
no mesmo súbito
com fome
de outra vez.


25/02/2008


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O maior artista deste finito que chamamos de mundo
é a criança
pela tamanha capacidade
de absorver
fantasiar
e criar
sem o pudor da sabedoria.


30/07/2007
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quinta-feira, 27 de março de 2008

demência inócua

título com palavra bonita. coisa chique de quem gosta de escrever. com a abundância de vocábulos. afinal, ser como é não tem mais graça. e é assim que sinto várias vezes. como um blog egoísta que fala de si, mesmo quando não de si próprio. que tem ouvidos surdos aos que lêem. quando lêem. e se lêem. é bom ter um bom ouvidor. mas ouvir também é muito prazeroso. ainda mais com descompromisso de ouvir. acontece de ouvir. é bonito ouvir o mar quebrar na areia. a noite faz sol na lua. é ótimo esquecer do escuro. os adultos temos muito medo de escuro. as crianças brincamos de nos esconder. e a luz é banal à fantasia. no escuro as coisas não têm cor. e o valor é de quem escolher. olha o medo de tudo perder. adulto esquece como se brinca. quando brinca, é mais idiota que jatobá. onde já se viu, medo de ficar onde está? e fugir não é a saída. no momento de fuga, todo lugar é escape, e não lugar de estar. e é insuportável essa sensação de lesão nuclear. de fragmento insólito. de desorientação à esquerda. todo tipo de conceito embaralha com coringas. é de surtar o esquecimento. uma certeza tão estática fora da bolha, que dentro dela parece mais seguro. dá pra inventar coisas que furam e fazem jorrar.


é meia-noite na rússia. e ciganos correm do frio. uma lenda e um lenço na cabeça. o destino vinga afora. postura indígena para com a solidão. trabalho árduo pra mestre. cacique que promete morrer na hora do vento. quando soprar de fora pra dentro. sabem da impossibilidade de se tornarem um rio sábio. fluente. a repetição se faz até ensurdecer. mas é o limite. fora isso, não há. parece óbvio, então, que a estrada é o caminho. por não tão óbvio que seja. ação libertária de ilusão. sem drogas. somente o ópio do sentimento demente no coração. e é preciso expandir a partir disso pra esbarrar no mundo alheio.


cavaleiros-guerreiros de uma europa medieval. nômades das américas. povos anscestrais da índia. marajás sobre elefantes africanos. linguas arranhadas sob túnicas. desconhecidos universais. são tudo noção de vida. posso me permitir a conhecer cada uma. me desconhecer por completo em vigia de madrugadas. ao redor, tem muita natureza. tem montanha e tuberculose. tem manhã e marimbondo. tem água e veneno.


outono é de flor bege. borboletas são engaioladas em hemisfério. poeira tem espaço nos poros.
a leveza continua pura...


e a dúvida gira com medo.



a dificuldade tá imensa. de juntar idéias. de saber qual o quê.
inócua?



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Agora era hora;
pedra sobre aurora;
sob o chão,
quimera.


14/01/2008


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Entupido inflamável,
desejo a grandeza
do céu estampado
leve e esvoaçante
de uma tarde fria de hoje
enquanto lá é noite.
Sinto a previsão
de daqui a pouco
quando o vento pinica
assoprando as estrelas à mim
dilatando meus poros saturados
a fim de vaporizar sentimentos
e sementes...
afinal o que faço aqui,
se não servindo de pasto
de tapete de asfalto?


12/01/2008


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sábado, 5 de janeiro de 2008

fragmento

Insistentemente, o telefone tocava, insistentemente, mente... Até parar; voltava a tocar. Eu não fazia a menor questão de atendê-lo, não conseguia perceber a importância daquele soar repetitivo, a relevância do ser do outro lado linha, talvez do mundo – vá passear, comer coxinha de frango estragada e ligar para um médico! Do quarto, podia sentir a vibração do eco do toque, uma matraca que pesava no ar, segunda-feira, onze horas da noite. Eu, nu, respingava sobre o lençol branco semi-novo, a mudança havia sido recente e tudo ainda cheirava a novo, mesmo as caixas velhas de papelão; uma vida nova com cheiro de mofo puro: a sensação da renovação. Estava ainda sem luz, mas o fogo é antecedente ao homem inteligente que inventou a vela, e a sombra assim se fazia na parede, volumosa, incerta, deformada pelo vento, fruto de estudo de uma antiga caverna – meu quarto era uma dessas, só que iluminada, estilo uga-uga. Mamãe tentara me ensinar a meditar antes de sua trágica morte morrida de velhice na semana passada, eu aprendi a olhar para a parede e só, acredito que, durante anos, meditei muito – meditava naquele instante, e por isso não poderia, nem conseguiria, responder àquela chamada, amada... O pernilongo me fazia companhia e zumbia em meus ouvidos – seria possível o silêncio absoluto? Deus se fazia presente, pois nunca vira dois, ou mais, desses insetos juntos e jamais conseguira matá-los – já nem tento mais, mesmo não sendo cristão, acho que é uma questão de respeito; que haja, então, uma relação de reciprocidade, não desejo a sua onipresença, acabei de me mudar! Tentava atingir um estágio de pureza alcançado somente no início do ciclo, um estado tão complexo atingido tão facilmente – por isso que a vida deve ser sem vida, ida... Dez minutos sem que o ruído parasse, feito martelo no prego, ego... Sequei, mas o tecido permanecia úmido. Conforme as idéias pairavam, quiçá perdidas, a cera era derretida – fontes esgotáveis são consumidas –, ambas reféns de um vento outorgado, que, no caso, ajudava o trabalho da mente e agravava a inconstância do fogo. Em poucos segundos de quietude era possível ouvir somente o nada, ou seja, um monte de coisas – um mantra é um nada –, propiciando um pensamento repleto de nada, a infância, o amanhã de repente, pente... O copo quebrou, me sentia novamente no Japão, compactado.

Levantei, pisava nos esparramados cacos de vidro; tirei o telefone do gancho. Em tom avermelhado, o rastro desenhava o caminho de volta ao recanto; nas paredes ao lado, esquecidas imagens de santos, pragas de outras rotinas – um passeio pela brisa ousada. Era dor, por isso era vermelho – o amor com dor, não sendo assim, não o seria. O trajeto de labirinto de concreto – até demais – se arrastava, junto aos meus pés não mais virgens – Oh Maria! –, ajoelhei-me e desdobrei-me, pois, deitei-me. O chão acalantava meus prazeres masoquistas, possuía-me frio e denso – como a brisa ousada –, o momento exato de lamber a poeira não menos insalubre que eu – um poço de osso dengoso, cinza podre. O que uma droga não era possível de arcar, meu manequim arcava, uma droga comparável à vida – uma alucinógena que, uma vez obtida, tendenciosa é perdida, depois sim esquecida. Escorria, de meu ouvido, um líquido com resquício de sabão, química juvenil; a alma livrava-se da mente amarelada, depois de frita, por pinocitose inversa. Em seguida, viria a clara, por fagocitose inversa, exalando o grandioso restante nada; as cores zombavam de mim, enquanto eu me derretia – esse é o perigo do fogo.

Mamãe, mamãe! Nessas horas é só mamãe, cabeça-mamãe, papai-mamãe, socorro-mamãe; morrera-mamãe! Bastava ter desviado o olhar para a direita e veria mamãe deitada à minha diagonal, esticando o olhar, observando a degradação de sua continuação – fagocitose completa – deixando-me ser uma nova era, indesejadamente, uma era que arranca todos os pêlos, que se suicida como gesto de morte chocante; enquanto a simplicidade suficiente seria comer, dormir e pensar – eis a questão. Não desviei o olhar, pois praticava o mimetismo indolor, entretanto bege; seria mais fácil assim pincelar o que desejasse ser – a renovação é uma bosta igual ao que a antecede.

Mamãe começava a chamar, o tempo insistia em conspirar, a vida permanecia a clamar, o telefone, fora do gancho, tornava a ruir, ir... Todos à mim. Grudei um ouvido de cada vez na parede do poço e lá os deixei, os olhos grudei em mim, a boca costurei, os sentidos expirei pelo nariz.

Em vão, mergulhei de cara no pensamento.



03/06/2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

debruçado

...a janela é um fragmento no concreto para se observar a paisagem. a minha janela é minha janela do meu quarto.

e ela tem uma vista dela.
e toda vez que eu vou até ela, sóbrio ou não, vejo e percebo as coisas em volta.
e ela vê o tempo todo.
e as janelas todas vêem.
e eu senti necessidade de fazer essa poesia pra ela:


É azul a minha janela,
é também serelepe
e musical...
e agora voa.
Borra-se em cinza esverdeado,
até vejo escorrer pólen...
aos poucos, colore-se em várias
vermelhas, brancas, amarelas,
cor-de-mel consistente.
Zumbido vibrante ecoa
e é possível escutar
os estalos suaves de outono
promovidos por gotas densas,
feito cristais transparentes.
Agora, é essa a cor dela,
janela preta cor-da-noite.
A luz fria da brisa cautelosa
descolore o inverno primaveril
com acalantos.
E de concreta é feita
com granitos e resíduos,
é momentâneamente minha
mas certamente é viva
e se deixa ser para deixar-se espiar
o segredo da natureza
(fragmento de saber espontâneo).
Ela pousa de volta
e nela me debruço
em laranja veraneio
atônito com o tom errôneo,
mas tão feliz...

02/12/2007

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você vê da janela o que você vê?
o quê?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

somente o que buscamos

o ser-humano é ultrasaciado por ser insaciável.

por isso a mente goza ...

e goza.

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Se catarse esgarçasse,
arrebentaria
por falta de espaço no exagero,
ao acaso.


11/12/2006

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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

despessoa


Há um consenso comum entorno de um pensamento sobre o “ser” como o ego indivisível, e propor uma mudança de auto-existência parece absurdo. É como se o fato de o rótulo que os pais deram e certificaram em documento quando nascido definisse o que a pessoa virá a ser. É claro que muitos percebem as ditas “fases da vida” em que se está mais eufórico, com projetos, ou mais perceptivos, estudioso, ou mais melancólico, sem muita perspectiva; mas isso também é criado pelo senso comum, uma pessoa normal deve passar por tais fases. O que está em questão não são as fases comportamentais momentâneas, mas a possibilidade de desconstrução e reconstrução profunda de si, já que a mente humana é fantasiosa e mágica, uma vez que ela consegue imaginar tudo o que há e deseja tudo o que não há. A ordem da mente humana é similar à da natureza, é caótica, construtiva e destrutiva. Já a ordem do mundo, criada por essa mente e guiada pelos homens que as acompanham, é feita através de uma linguagem em comum, o que pressupõe uma limitação de entendimento, sendo esta aceita culturalmente, oriunda de uma interpretação. Da mesma forma se dá o autoconhecimento das pessoas ao longo da vida, de suas próprias culturas, educação e absorção. Há uma grande necessidade de algo que possa guiar o entendimento das coisas; está certo, a linguagem é fantástica por conseguir alcançar de alguma forma o saber das coisas, ms ela de fato não é o saber, é uma interpretação do mesmo; o saber é visceral e incontrolável.


Quando Fernando Pessoa afirma: “o mundo sou eu”, se expande ao seu nível máximo de existência do ser, pois admite qualquer possibilidade de personalidade, de situação mundana ou não. Ele sabe que a limitação é uma questão de controle de si mesmo, de saber o que está sendo agora, o que acontece ao redor, sendo que todo esse conhecimento é vago e superficial, à medida que tem consciência de sua restrição humana. Sendo assim, sentiu-se na necessidade de assumir vários heterônimos devido a sua inquietação catártica e conseqüente desconstrução da própria personalidade.


Talvez, Fernando Pessoa tenha sido o melhor (não o único) exemplo existente em vida de que a feroz busca pela ilimitação da mente como aplicação de real seja bastante potente em níveis de criação (e/ou destruição), ou seja, de transcendência. O problema é que a linguagem binária prevalece no entendimento comum da sociedade, sendo assim, a limitação pendular acaba sendo a formadora das mentes ditas pessoas humanas.


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EU-GOÍSTA

sou um alienado porque quero,
um tarado pelo que venero
um egoísta com o meu eu,
uma estátua no colizeu.
Não acredito no véu
da noiva em lua-de-mel,
nem nas juras mais puras
feitas quando se declara uma puta comprometida.
Não gosto de ouvir contar mentiras,
gosto de pensar que estou sendo ouvido.
Sei que esse meu mundo é curto,
nele, só eu acredito,
só eu vivo;
um mito.

Já sinto pena
do eu
desta cena.


26/07/2006

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Não basta estar no meio,
tem de saber o que ele é
e, por meio dele, sê-lo.


29/08/2007


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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

nostalgia inversa

tenho tido saudade daquilo que ainda não vivi. volto um pouco ao passado e me canso rápido. desgaste na relação. quero algo novo. faço algo novo.


e logo tenho saudade.


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Se é por castigo,
me intrigo ao respirar pelas ventas,
indeciso de tanto mastigar.
Mastigo sim,
mastigo o vento,
que sobe e borbulha,
borbulha em bolhas de ar,
e ainda assim eu tento,
mas não cabe,
eu não consigo exprimir
o meu vazio.

Crio, então, idéias,
idéias tias, primas, sobrinhas,
parentes de meu penar;
o sangue quente,
ainda em bolhas de ar,
fermenta o que é doce.

Antes fosse
esse
o gosto da saudade.

23/12/2006


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domingo, 21 de outubro de 2007

blábláblá

é isso aí.
nada não.
nada sim é do manoel de barros.



quem não sabe o que é seca da água sempre provou.


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Enfim começo
pois-então
como meço o fim?


25/10/2006

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terça-feira, 9 de outubro de 2007

falando em deus... o diabo aparece.


criação divina.
é criação da mente humana. logo, homem é deus. e deus não é nada. homem não é nada, então.

uau, que paradoxal. que lógico. que antropocêntrico altruísta.

é bem fácil ver deus. e o diabo também. é a mesma pessoa, às vezes. estão espalhados por aí. uma grande quantidade. se o mundo é do homem e homem é de deus, mundo é de deus. e deus é o homem. o homem é o mundo. cada homem é o mundo. cada homem, além de ser o mundo, cria seus mundos. e tenta conectá-los. destrui-los. é fantástico por ser genial e avassalador.


mas é desumano...
e eu sofro de existência inesperada.



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Oh, Anfitrião Sublime,

Após esse enxame de insetos
decerto não quererás voltar
para contar
esta história da besta
ou de eclipse lunar.
Não mais guiarás as ovelhas
e teu pasto será divdido
como foi e será;

mas não haverá a guerra pelo senhor,
não haverá mente de doutor,
dr. sabe-tudo que rege mandamentos
em troca de sofrimentos de milênios.

Onde estás, oh luz?

Na caverna de Osama
ou eternamente na cruz?
Como uma praga,
estás em toda parte
e, por isso, os insetos
e, por isso, desafeto.

Meu coração é grande,
mas não te faz caber.
Nos deixe em paz,
lembre-te que já foi
e agora jaz.


08/10/2007

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ATEU

Clamo o que desejo,
enquanto Ele,
lá de cima,
me vigia
pastando no brejo.

Se eu digo que não ligo
é porque só quero saber do meu umbigo,
se eu aceito sorridente
é porque eu sou crente,
prefiro, então, fingir que nem existe,
quem sabe assim,
de mim,
ele desiste?!


10/08/2006

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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

enfim, inicio...

podemos imaginar qualquer coisa.
sem inicio, sem fim e sem meio.


- tão bobo isso...
- não acho.

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...o velho cachimbo

grudado nos lábios do senhor,
um antigo contador de história.
Espia o desenho livre da fumaça
extraída do velho oco de madeira,
compete com um incenso
corroído pela metade,
repousado no canto da janela
para espantar tais insetos,
pequenos mosquitos que sobrevivem
em pouco tempo de vida, aniquilados.
Dedos amolecidos,
unhas falecidas...

eis que coça sua barba branca,
lento, arrasta alguns passos,
uma baforada opaca,
e calmo estaciona assentado,
perante ao paisagístico Nada.
O Nada monocromático que o emociona,
faz-se, pois, necessário olhá-lo sem pudor,
romântico, descrente de um tempo iminente,
prestes a mudar de cor
e de semântica...

esfria com seu balanço firme,
estica as mangas de seu casaco,
apoia seu braço na cadeira,
morno, com sono,
dorme...

13/09/2006
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sexta-feira, 28 de setembro de 2007

festa na floresta

cuidemos da natureza. mas ela não cuida de nós. e quem disse que a lógica é essa?. ela segue. nós também. mas só enquanto ela seguir. então, para sobrevivermos, vamos cuidar dela. senão, morreremos afogados. queimados. isso. cuidemos da natureza por puro egoísmo. e discutamos sobre o meio ambiente. sejamos politicamente corretos. sejamos hipócritas. ridículos.

só agora a grande massa de acefálicos está começando a se dar conta da própria existência. o medo das pessoas, no geral, não é com o fim da natureza. mas com a consequência grave que isso tem para elas próprias. que egoísmo bonitinho. pelo menos assim dá pra cuidar daquilo que vos compõe.

história. nascemos. e sabemos que estamos vivos. e é só. o que já é muito. precisamos, então, de criar algo para sobreviver. técnica. senão morremos. e aí se vai. um mundo todo próprio. um mundo sobre a natureza. expansivo. a realidade é tão original que se parece com a própria natureza.
a ciência avança. avança. e avança. e o homem é primata. seus sentimentos. sua forma de se agrupar no meio. de conviver. homem é bicho.


...mas, de repente, o homem foi criação da evolução na natureza para tentar contê-la. e aí, a gente pode ficar numa boa. sem culpa de tê-la destruído.



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SOBRE HOMENS E NATUREZA - PARTE I

A natureza se comunica com a alma dos seres racionais,
razão esta tão incapaz de decifrar tais sinais.
Desarmonia em ebulição via concreto:
certo de que irá ser discreto de preto no meio da paisagem noturna,
por acaso, inocente, mostra os dentes amarelados.
Um jeito singelo de afirmar sua ignorância para com a grandiosa.

31/12/2006
(em São Pedro da Aldeia)

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SOBRE HOMENS E NATUREZA - PARTE II

Curiosa essa minha percepção tão falada enaltecidamente...
deveria ser natural como está sendo agora.
O natural encanta porque não é preciso fazer nada,
uma vez que ele simplesmente é e, por ser, faz.
Ele e Ela estão em harmonia feito uma escala de Dó maior - não há acidentes -
Ela é mãe, pois dela é que nascem as coisas, sejam lá que coisas,
mas Ela não é fraternal.
Na senhora natureza - Ela - os intervalos dissonantes são implantados,
com isso criam-se novas escalas harmônicas.
Logo o homem - Ele -, o ser transcendente e viril,
como pôde se deixar desafinar?

06/01/2007

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sábado, 22 de setembro de 2007

a um amigo

imagem: renan barbosa



a vida é o melhor exemplo de anarquia.


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Escrevo a um amigo que de tudo entende
e nada gosta de escrever
explicar é redundante
ora confuso,
por vez espontâneo...
faz o que quer pela vida,
menos quando não pode,
mas quer e aprende,
sagaz, sufoca...
e quando decide não viver?
sorri demais,
fala o que pensa sem se preocupar em articular,
vai além, ultrapassa a dor, passa vitória,
desentende o mundo
e expurga o que lhe consome -
um ser cheio de verbos; imperativo.

Regresso a um mero papel para dizer
que você está inexistentemente correto
pois vive em completa anarquia,
como prevê sua vida,
como todas quaisquer.

12/03/2007

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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

ler ou não ler

pelo visto é isso. blog presta pra desabafar. tanta gente visita. ou ninguém. não falam nada. melhor que assim seja, se não for natural, espopntâneo. sempre com os dois lados da moeda. também é chato publicar textos e não ter retorno das discussões propostas. as expectativas diminuem. por isso deve ser algo livre. descompromissado. sobretudo, textos curtos. dá menos preguiça de ler. o fotolog costuma ter maior receptividade. mexe com fotos. textos diretos. eu tenho preguiça de ler coisas grandes. não tenho uma cultura de livros. nunca fui a obrigado a ler nada. na escola mesmo obrigavam. mas eu fugia. eu adoro escrever. preciso escrever. mas não me obriguem a ler nada. curioso mas foda-se. disse isso pra dizer que compreendo claramente quem visita e nem lê. ou lê só o início. o jornal costuma ser assim. bem direto. tudo está na manchete e no subtítulo. ler o resto é uma questão de curiosidade e paciência. mas educa-se bem assim. pois diz-se que é necessário ler o jornal. é mais acessível. muitos lêem. mas pode ser uma péssima educação. são as mesmas palavras. texto completamente formatado. previsível. muitos falaciosos. conhecimento limitado. interesses políticos. e um bom livro é fantasioso. é conhecimento fantástico. é uma viagem a algum lugar existentemente obscuro. tanta gente foi à europa. aos estados unidos. mas nunca parou realmente para ler um livro. eu já o fiz. mas fiz pouquíssimas vezes. prefiro poesias. me incluo na minha própria crítica. o livro te permite a viajar por dentro da própria mente. a história é a mesma. mas as fantasias variam de acordo com as pessoas. é aí que a arte literária se renova. na viagem de cada um. a arte é assim pra mim. fantasiosa. tão clara quanto a ciência. ciência e arte são verdades movidas pela probabilidade. mas a arte pode ser uma verdade efetiva. a ciência tenta. diz que consegue. mas é difícil dar 100% de certeza de suas descobertas. ler é viver. é conhecimento. mas não é essêncial. viver e experimentar a vida é a maior escola da sabedoria.




saia do computador e vá andar pela rua.


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DUELO

Licença poética
se faz sem pedir licença,
entre o gramático e o poeta
que o melhor vença.

29/01/2007
(em San Marcos - Califórnia)

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Eu poderia comprar um carro usado
e alugá-lo para poder pagá-lo,
mas o meu maior regalo é a vida;
é o único ainda.

E para comprar a vida
me alugo de coisas,
me possuo de bens.

Ainda bem que não vivi.

17/07/2007

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