Um
início sem começo surge como aparição. Estou nadando em águas profundas que
parecem um oceano e pareço obstinado, mesmo com uma sensação
angustiante.
Encontro de repente com um cara que conheci na minha viagem a Brumadinho logo
depois do desabamento da barragem de minério da empresa Vale.
Lá,
passamos juntos por momentos intensos num cenário pós-apocalíptico conhecendo a região
devastada pela lama, onde inclusive atolei o pé.
Tivemos
presentes gritando e também em silêncio na manifestação em frente à assembleia legislativa de
Belo
Horizonte. No mar, ele parece estar com dificuldades pelo cansaço e
talvez
algum ferimento, algo que o impede de continuar. Não lembro se pedia socorro. Alguém (ou apenas uma voz feminina) de algum lugar que não
posso identificar
me diz para ajudá-lo. Prefiro seguir antes que minhas mãos e minhas pernas se desfaçam do meu corpo. Nada de águas-vivas. Não me sinto bem tomando essa
atitude, mas é como se eu realmente não pudesse fazer algo por ele e por
isso
nem me esforço. Sinto um nó, mas sigo remando com os braços. Estou
em dúvida se busco chegar em algum lugar ou se fujo, ou os dois.
Apesar de nadar, não mergulho a cabeça e não sinto meu corpo molhado.
Além
disso, não me canso e faz sol sem calor. Quase só vejo a ação, de perto e
distante, assim como se faz a experiência de ver. Em algum momento,
penso
estar indo à Argentina e por isso tenho que tomar cuidado com as
cataratas da
tríplice fronteira. Desaguando. Fiquei confuso e não podia esquecer que deixei
alguém pra
trás.
rejeito de óleo sobre o rio Tapajós
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