quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

não sei a que mão chegará


 sei que você gosta de se sentir livre. pergunta a todos se não deveria perguntar. age espontaneamente sensível ao outro. às vezes força um momento, mas logo o desiste. não persiste à toa. faz jogo duro consigo. caminha só quando o solo encaixa. pede desculpa sem culpa pois escuta. demora quando não há tempo com hora. volta assim que lhe vem. receia compromisso com quem convida demais. sonha pelos cotovelos. pede pra parar mas não respira. descobre o infindável a esmo. destoa nos relacionamentos pobres. vê no simples o porém. cala pra não competir, a não ser que se defenda. ainda assim, não grita. prefere o que não corresponde. explora os cantos. dorme  pouco e firme. permite pra tentar relaxar...




pensar nas coisas
faz pensar as coisas
e como elas se dão

estica tanto a palavra
que esquece de vivê-la.

terça-feira, 6 de julho de 2010

indiscussão

a negação. um espaço preto antes de branco. aquilo que preenche e depois releva.

um posicionamento radical exerce uma força maior pelo desconforto. como consequência, a própria rejeição. possivelmente aquela que de antemão não se acolha, mas que mergulha e revela.

nada de novidade na opinião alheia, um sim talvez não. o radical abomina o fim da discussão. ele perturba e rulmina indagação. sabe muito que em si não há verdade, mas masturbação. exige um contraponto pra pensar, vomitar e recolher migalhas de ar. sua própria negação consiste em fingir. como se a domínio de um nada houvesse um palanque circense propício ao desenvolvimento das coisas. vago assim a ponto de ser o artifício de maior verdade.

e o que seria de menor verdade? a vida como ela se propõe. o esgarçamento de malditos populares. neuroses múltiplas. dissipação de inícios homogêneos. berros de ensejos individuais. notórias diferenças abafadas em suas crenças. um pouco de tudo, que ao radical soa um tanto irrisório.

o não fere, duvida, dissipa, descamba, arremata, debocha, retalha - e consegue ser, indesejavelmente, a alegoria de uma ilusão. a existência incômoda e por isso mesmo existente. um mimo à beça.


revés de começo por princípio.




----------------------------------------------------------------------

Seja eu o homem
seja ela também
seja ela o homem da história
seja a história invertida
seja eu uma coisa ou outra.

Serás, de partida,
o avesso da vida.


janeiro/2007

----------------------------------------------

vou ser vida
devaneia
a temporal.
 

abril/2010



sábado, 3 de julho de 2010

contem plativo

debruça na janela
uma esperança
de liberdade
quando há céu
como se fosse
mais tarde que pudesse
antes mesmo
que voasse
interminável
mente.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

fluxo

desescolher
romper
desencontrar
nascer
desaprender
aprender
descompassar
escolher
desencaixar
perceber
alargar
descaber.

domingo, 21 de março de 2010

carta de fulano

«caro afeto,


você é companheiro do respeito. acho que isso tem a ver com amor. envolver-se por admiração. aproximo-me daquilo que permeia paixão, encantamento, vontade de ter pra si como presente. por pura absorção. coisa que constrói.

a gente descobre sobre a vida e se impõe sobre as coisas; como ao tempo, por exemplo. portanto, arte não deve estar a serviço dela mesma como um conceito, mas de um sentimento sincero de estar.

e como pode ser tão possível um afeto desperto ressonar, reavivar e preencher a vida? 

é uma mistura de fulanos que se fazem aparecer e que fascinam na mais perfeita ausência de gênero. desejo elas como musas, ligação de carinho e tesão em muito. desejo eles na troca de afeto com mais enfoque e seriedade. mas é mentira. entre nós tudo ocorre e permuta entre si. desejo ele e ela do mesmo jeito. canalizamos através daquilo que limitamos contextualmente em racional. nós é que estamos anjos.

você não tem origem…
tem certeza?

admiro outros dois fulanos: um conhece e o outro sabe - ambos dominam seus afetos tortos, ainda que. minhas fotos são diagonais, uma visão escalena. nossa interseção consiste em sermos largos nos nossos quereres.

e nos alikementamos.


sinceramente,
    fulano. »