quarta-feira, 28 de novembro de 2012

na diferença que o amor não piegas

kyrie


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o amor deseja viver em paz, mas viver implica no caos. nem mesmo a serenidade está livre dos impulsos nervosos, pois o amor desconhece as fronteiras, ao contrário, ele é a representação da ausência de limites. inventou-se a plenitude na tentativa de consagrar um sentido majoritário, com a ideia de que a democracia seria o modelo igualitário, justamente quando há mais diferença que igualdade. julgamos normas à caça e somente mortos logramos iguais.

a noção de povo anda estigmatizada por incompetência da espécie humana, que não se porta decente diante do estranho, provocado pela diferença, e pratica substancialmente a troca de dominação - em geral, assumida por uma lógica de defesa. o conflito nasce quando um regime necessita expandir e, para isso, se impõe sobre outros em detrimento da própria crença. é muito amor próprio. logo, surte uma guerra despropositada, enquanto as diferenças estão ramificadas dentro de um mesmo regime, ou seja, num intermitente caos que reage e recria à coerção do ambiente.

neste instante, os povos querem se comunicar. 

o que a multiplicidade possibilita, nas tribos, com a proliferação de fragmentos de ilusões realizáveis, incita o medo ao povo da decadência do modelo democrático. o amor que vós deveis unir, a igualdade, beira o impossível. o caos avisa que a igualdade plena provoca uma violência tenaz, causando morte, e que a espécie não reconhece submeter a si, mas pode fazê-lo num ato desesperado de resignação.

em qualquer regime de povos, os corpos transitam nos espaços onde se encadeiam, ou se avistam, ou se encontram, ou se chocam. não há como evitar a coexistência transdimensional. para amar, basta conectar-se. quando a igualdade se impõe ante a qualquer contrato, pasteuriza o amor; dá pra sentir o dissabor da anestesia. contudo, se entendemos que há sempre um movimento natural de transa entre perceber, tentar e atravessar, poderemos nos posicionar politicamente, amando loucamente.

num regime, as ideias desejam cultivar os discursos elaborados pelas descobertas e introjetados de frases, que dominam a existência e o posicionamento das palavras que, contudo, organizam as letras que foram meticulosamente desenhadas pela leitura, subservente aos sentidos, extraídos do ambiente, estudado pela epistemologia da mente, impregnada de natureza bruta e inventiva, regida pelo tempo, estabelecido por puro mistério. e amar deve ser nos responsabilizar pelo que e iremos (nos) transformar.



imagem de Renan Barbosa 


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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

uma outra e coisa devem transformar

o que resiste é de angustia e dilui em vários seres. passado pode ser que pólen no universo. e quando se descobre que nada muda tão rápido quanto o tempo, faz-se a roda (girar). morremos desde sempre nessa conotação espacial de tempo que a tudo ocupa. esbarramos também em buracos que não são feridas, estão apenas ventilando - é difícil conter as evasões, pois participam da involuntariedade. tem energia no ócio que o nabo não retém e resiste.

. é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte  

isso significa que se deixarmos somente fluir como há, arriscamos nos esvair na efemeridade dos acontecimentos inatos, no que há de mais orgânico no trivial funcionamento da natureza. viajamos ao norte sem mapa registrado, o que deveria nos tornar interessantes; ao sul, reavaliamos por que e qual seria o caminho menos torto. portanto, assimilamos moldes de supostos acertos para engessar as dificuldades de resistência e tornar as prioridades mais objetivas, ainda que dissimuladas pelos afetos.

. hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás 

aquele espaço ocupado pelo tempo parece claro, inclusive que talvez o outro não importe muito, já que a solidão é um estado ímpar de sobrevivência e revés. devemos nos atentar, porém, que estar realmente só é dar-se na extrema necessidade de existir; é o nu famigerado do saber e da libido. e isso dói pacas.

. não confunda pressa com urgência


nos concerne um pouco de água; o que não cheira, mas dilui.