segunda-feira, 12 de maio de 2008

descoberta

descobri um segredo sobre a vida. sobre uma fase que faz dela única. uma invenção. descobri a infância. descobri em foto velha. em lembrança fresca. descobri na própria infância que criar é desdescobrir. aqui, distante da infância, percebi que havia descoberto. e redescobri. em estouro de bolha. observando mariposas na luz da noite. pisando em amontoado de pedrinhas. manchando camisa branca com mãos de tinta. ralando o joelho no asfalto. etc com certezas. pois etc sem certezas não viram estórias. um contador há o que contar. um cérebro há de conhecer. e se expande sem haver espaço, com o obséquio de formar certezas. são assim educados os saberes. convictos de desculpas alheias. por pura falta de coerência existencial. a inocência é arma de força. e a natureza é inocente. não é de se ter pena das folhas. quiçá de um rio. fluente e esquivo. uma inocência de milhões de anos. uma infância eterna. que a eternidade humana não se esqueça de desaparecer. humilhada pelo tempo.

[pra que serve a criação? enfeita o tempo. não há de prestar para algo. manobra o antigo. liberdade do novo. da criança dispersa que usa chave de fenda para afrouxar as nuvens do teto. e as coloca debaixo dos braços. só para passear por entre formigueiros.]

pelo teto de casa: vaguei sem sujá-lo. chutei sem força a presilha da cortina. pulei as lâmpadas enroscadas na vida. deslizei com o gás solto da cozinha. desviei ao esbarrar nos varais da área. equilibrei-me no chuveiro goteiro do banheiro. e me via. no espelho na minha mão, virado pra cima. refletindo-me.
passei por essa experiência mais de uma vez sem vivê-la. eu era inocente.





não presta pra criança quem não inventa inocência.


idade não encaixa em criança.




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Quis andar descalço
perdi meu chapéu
na coxia do tablado
esqueci o resto da fantasia
junto do sapato
comi biscoito de terra
com chocolate
pra pintar feliz
com giz de cera
derretido em fogo

pinguei no papel
a paisagem
de nuvem azul
céu branco
sol vermelho
árvores retas
casas tortas
bonecos palitos
e escutei o sinal
que dizia
que era hora de brincar
não mais trabalhar

corri pelo pátio
mudando de certeza
de pessoa
brinquei de espada
de pássaro
e de vencedor
mesmo sem fim
ouvi estórias até dormir
de repente no chão
cansado
sem hora de ir
pra acordar
no mesmo súbito
com fome
de outra vez.


25/02/2008


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O maior artista deste finito que chamamos de mundo
é a criança
pela tamanha capacidade
de absorver
fantasiar
e criar
sem o pudor da sabedoria.


30/07/2007
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Um comentário:

Carol Bonando disse...

Esse parágrafo, "pelo teto de casa: vaguei sem sujá-lo. chutei sem força a presilha da cortina. pulei as lâmpadas enroscadas na vida. deslizei com o gás solto da cozinha. desviei ao esbarrar nos varais da área. equilibrei-me no chuveiro goteiro do banheiro. e me via. no espelho na minha mão, virado pra cima. refletindo-me.
passei por essa experiência mais de uma vez sem vivê-la. eu era inocente." está simplemente demais! Faria um conto com este início-fim de história, não estória.

Este poste depois deste trecho, muda bastante, todo o sentido, apesar de continuar na infância.
Minha infância... devo ter escrito algo no meu blog sobre tal.

Abraço