sexta-feira, 24 de maio de 2019

desaguando

Um início sem começo surge como aparição. Estou nadando em águas profundas que parecem um oceano e pareço obstinado, mesmo com uma sensação angustiante. Encontro de repente com um cara que conheci na minha viagem a Brumadinho logo depois do desabamento da barragem de minério da empresa Vale. Lá, passamos juntos por momentos intensos num cenário pós-apocalíptico conhecendo a região devastada pela lama,  onde inclusive atolei o pé. Tivemos presentes gritando e também em silêncio na manifestação em frente à assembleia legislativa de Belo Horizonte. No mar, ele parece estar com dificuldades pelo cansaço e talvez algum ferimento, algo que o impede de continuar. Não lembro se pedia socorro. Alguém (ou apenas uma voz feminina) de algum lugar que não posso identificar me diz para ajudá-lo. Prefiro seguir antes que minhas mãos e minhas pernas se desfaçam do meu corpo. Nada de águas-vivas. Não me sinto bem tomando essa atitude, mas é como se eu realmente não pudesse fazer algo por ele e por isso nem me esforço. Sinto um nó, mas sigo remando com os braços. Estou em dúvida se busco chegar em algum lugar ou se fujo, ou os dois. Apesar de nadar, não mergulho a cabeça e não sinto meu corpo molhado. Além disso, não me canso e faz sol sem calor. Quase só vejo a ação, de perto e distante, assim como se faz a experiência de ver. Em algum momento, penso estar indo à Argentina e por isso tenho que tomar cuidado com as cataratas da tríplice fronteira. Desaguando. Fiquei confuso e não podia esquecer que deixei alguém pra trás. 

rejeito de óleo sobre o rio Tapajós

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