quinta-feira, 8 de novembro de 2007

despessoa


Há um consenso comum entorno de um pensamento sobre o “ser” como o ego indivisível, e propor uma mudança de auto-existência parece absurdo. É como se o fato de o rótulo que os pais deram e certificaram em documento quando nascido definisse o que a pessoa virá a ser. É claro que muitos percebem as ditas “fases da vida” em que se está mais eufórico, com projetos, ou mais perceptivos, estudioso, ou mais melancólico, sem muita perspectiva; mas isso também é criado pelo senso comum, uma pessoa normal deve passar por tais fases. O que está em questão não são as fases comportamentais momentâneas, mas a possibilidade de desconstrução e reconstrução profunda de si, já que a mente humana é fantasiosa e mágica, uma vez que ela consegue imaginar tudo o que há e deseja tudo o que não há. A ordem da mente humana é similar à da natureza, é caótica, construtiva e destrutiva. Já a ordem do mundo, criada por essa mente e guiada pelos homens que as acompanham, é feita através de uma linguagem em comum, o que pressupõe uma limitação de entendimento, sendo esta aceita culturalmente, oriunda de uma interpretação. Da mesma forma se dá o autoconhecimento das pessoas ao longo da vida, de suas próprias culturas, educação e absorção. Há uma grande necessidade de algo que possa guiar o entendimento das coisas; está certo, a linguagem é fantástica por conseguir alcançar de alguma forma o saber das coisas, ms ela de fato não é o saber, é uma interpretação do mesmo; o saber é visceral e incontrolável.


Quando Fernando Pessoa afirma: “o mundo sou eu”, se expande ao seu nível máximo de existência do ser, pois admite qualquer possibilidade de personalidade, de situação mundana ou não. Ele sabe que a limitação é uma questão de controle de si mesmo, de saber o que está sendo agora, o que acontece ao redor, sendo que todo esse conhecimento é vago e superficial, à medida que tem consciência de sua restrição humana. Sendo assim, sentiu-se na necessidade de assumir vários heterônimos devido a sua inquietação catártica e conseqüente desconstrução da própria personalidade.


Talvez, Fernando Pessoa tenha sido o melhor (não o único) exemplo existente em vida de que a feroz busca pela ilimitação da mente como aplicação de real seja bastante potente em níveis de criação (e/ou destruição), ou seja, de transcendência. O problema é que a linguagem binária prevalece no entendimento comum da sociedade, sendo assim, a limitação pendular acaba sendo a formadora das mentes ditas pessoas humanas.


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EU-GOÍSTA

sou um alienado porque quero,
um tarado pelo que venero
um egoísta com o meu eu,
uma estátua no colizeu.
Não acredito no véu
da noiva em lua-de-mel,
nem nas juras mais puras
feitas quando se declara uma puta comprometida.
Não gosto de ouvir contar mentiras,
gosto de pensar que estou sendo ouvido.
Sei que esse meu mundo é curto,
nele, só eu acredito,
só eu vivo;
um mito.

Já sinto pena
do eu
desta cena.


26/07/2006

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Não basta estar no meio,
tem de saber o que ele é
e, por meio dele, sê-lo.


29/08/2007


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Um comentário:

Anônimo disse...

Assino em baixo..
A mente humana é muito conflituosa, e geralmente nossos desejos são reprimidos por uma estrutura social já definida, um molde de como deve ser um humano.
Abraços!